terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sobre a beleza dos dias comuns

Não que fosse comum, mas de vez em quando acontecia de eu ir para o jornal a pé. Principalmente nos dias de plantão, quando o sábado sempre amanhecia nebuloso e as gotas de garoa fina se acumulavam no meu cabelo pela inexistência de um guarda-chuva.



E toda vez eu passava por uma pracinha, daquelas com direito a banquinhos coloridos e banca de jornal, exalando meu tédio de enfrentar mais um dia de trabalho. Lá, eu percebia que havia um gari laranjinha que ficava cantando um pagode.



Da primeira vez, ele disse "Oi moça". E eu, surpresa, respondi: "Oi".

E sai andando indignada, como sempre acontece com as moças desprovidas de humildade.

Dai ele disse: "Tenha um bom dia".

Eu lembro de ter olhado para trás, me perguntando o porquê de tanto bom humor.

E ai nesse segundo passou um senhor, e o gari repetiu a mesma saudação: "Bom dia, senhor"



E eu segui pensando: "Que cara chato".

E a mesma cena de cumprimentos se repetiu por mais uma vez, quando eu novamente passei pela pracinha e ele, como faz com todos, me cumprimentou com um sorriso.



Mas antes que pensem que essa é uma história de amor entre eu e o gari, já adianto que não foi o caso. O fato é que esse episódio medíocre me chamou a atenção pela disposição que aquele homem tinha de ficar desejando um bom dia para os outros.

E aí você para para pensar que as pessoas só te desejam coisas boas voluntariamente quando é seu aniversário ou quando alguma coisa especial acontece.
E nem sempre tudo o que te desejam de fato é sincero ou realmente acontece.

Mas o gari da pracinha da Vila Oliveira continua lá, todos os dias, varrendo as bitucas de cigarro que os desafortunados jogam pelo chão.

4 comentários:

  1. Ah, a vida seria muito mais prática se as pessoas só nos desejassem o que realmente sentem, mas não seria necessariamente melhor. É bem aquela propaganda da Kaiser que passou faz um tempo. Mas, de qualquer forma, uma das graças da vida é tentar saber o que cada pessoa realmente é. É um prazer mórbido, eu sei, mas faz parte do ser humano...

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  2. Maritan, a gente leva uma vida inteira e não sabe o que cada um realmente é.
    Eu, por exemplo, não consegui descobrir quem eu sou, imagina o resto do mundo...

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  3. É desconcertante ver pessoas que, julgamos, teriam motivos de sobra para reclamar, encararem a vida com muito mais humor e simplicidade do que a gente.

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