terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Como será o amanhã? Responda quem puder...

“Um dia, menina, você vai se casar com um moço muito bom, com muito dinheiro, e vai ter três filhos lindos”.
Assim como num conto de fadas, a cartomante virava as cartas enquanto eu hesitava em perguntar algo. Eu sabia que ficaria predisposta a acreditar e, por mais que duvidasse da existência do destino, acabaria imaginando que a minha sina era aquela. E casamento com três filhos sempre foi algo que me deixou em pânico.

Todos os finais de ano, desde que me tornei repórter, eu vou à cartomantes, gurus e afins. Sempre para fazer matérias sobre previsões para o ano seguinte.
E quando eu chego lá, há sempre um “brinde” para mim: uma carta virada, uns búzios jogados, uns cristais girando e uns números calculados para medir a minha sorte. Ou a falta dela.
Cortesia da casa, dizem eles. Eu aceito porque custo a acreditar que isso seja verdade. Abobrinha por abobrinha, finjo que minha vida é um livro e que as pessoas inventam vários finais pro conto. É mais ou menos isso o que parece.
Quem sabe alguém não vira a carta de que eu vou ganhar na Mega Sena. Isso poderia me incentivar a jogar.

Às vezes eles dão umas bolas dentro, mas por pura coincidência.
Mas a maioria delas erra. A moça que girava os cristais foi a que mais furou. Disse que determinadas pessoas que saíram da minha vida não voltariam mais, quando tempos depois elas voltaram como se nunca tivessem saído. Disse que eu teria problemas na coluna e eu nunca tive.
O guru da leitura dos números disse que eu ia bater o carro (em 2006). Depois me encontrou e respirou aliviado, dizendo: “Ufa, minha filha, você já escapou do perigo”.
Depois teve ainda um pai-de-santo que disse que um senhor de bengala e cicatriz no braço direito queria se comunicar comigo. Meu pai não usava bengala e meu avô tinha perna mecânica. Logo, não é ninguém que eu conheço, então não tô afim de um Chat com alguém do além.
E foram várias outras abobrinhas que não me recordo e que até podem ter acontecido (Ah não, uma delas disse que um candidato a prefeito ia morrer... E não é que ele tá aí até hoje...).

Mas nenhuma delas terminou de maneira tão jocosa quanto a previsão da numeróloga: “Você vai se casar com um promotor”.
E ainda tive de ouvir do meu editor-chefe: “Só se for um promotor de vendas, jagunça”.

Esse ano a odisséia se repete. Logo mais transcrevo as profecias de Nostradamus que vou ouvir dessa vez.
Para adiantar, digo de antemão que o primeiro vidente previu algo que eu já sabia: “Cuidado com as suas finanças, você vai se enrolar e vai ter problemas com a falta de dinheiro”. “Cuidado com algumas pessoas próximas, que não te querem tão bem assim”. Ah, jura?

É por essas e outras que eu prefiro ser cética.

3 comentários:

  1. Sabe o que mais me deixa triste? O jornalismo dar espaço para esse tipo de vigarice, charlatanice. Um monte de besteiras sendo tratado como algo sério, preenchendo um espaço precioso que poderia ser ocupado por algo útil. Como devo ser a única pessoa no mundo que sequer sei a que signo zodiacal pertenço, acho o esoterismo algo maléfico para a nossa sociedade. Fora as preocupações e neuras que gera. Por exemplo, tem um monte de gente por aí com o cu (pode palavrão aqui?) na mão preocupado com o fim do mundo em 2012. Merecem todos, pauteiros e editores que propõem essas merdas, o fogo do inferno - se é que a maldição eterna existe!

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  2. Ao amigo Novelini,
    Sabe o que me deixa mais triste?
    Saber que essas baboseiras que escrevo uma vez por ano representam, com toda a certeza, a matéria mais lida por populares durante toda a minha carreira.
    Infelizmente, esoterismo existe porque tem demanda. E na realidade, se você pensar bem, vai perceber que é uma puta (palavrão pode) tristeza ver que a sociedade precisa de muletas como essa pra conseguir seguir em frente.
    As pessoas precisam que um guru lhes diga que não haverá mais corrupção, nem doença, nem nada pra acreditarem em dias melhores.
    E depender de muletas do destino é triste. Bem triste.

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  3. Ah, que tal inverter o fluxo neste ano. Ao invés de fazer as previsões para 2010, mostra as previsões que não deram certo ou, digamos assim, que os astros ficaram devendo de realizar.
    Lembro de uma vez que uma cigana, aqui na Deodato, quis ler a minha mão e eu não deixei. Ela olhou pra minha cara de previu que eu ia virar gay. E não é que eu continuo hétero até hoje?

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